A paz entre os humanos e os anões já perdurava durante mais de 200 anos, e após o primeiro ciclo da guerra os humanos entenderam que a melhor forma de sobreviverem a qualquer ameaça externa, era mantendo a paz entre os povos livres. O rei Dinyon talvez tenha deixado um legado mais valioso do que qualquer tesouro anterior, ele conseguira estabelecer a paz entre a maior parte da civilização inteligente de Ferraria, mesmo aqueles que não quiseram juntar-se a aliança, como os alto-elfos, aceitaram um acordo de não agressão. A partir de então acontecia um encontro anual para festejar, colocar a parte quaisquer diferenças e definir o futuro de Ferraria.
Naquele ano o encontro acontecera na casa dos anões, a monumental cidade de Cartref, seus imensos salões de festa estavam lotados, líderes e representantes políticos de todo o continente desfrutavam da orgulhosa hospitalidade anã e tudo corria bem como de costume, foi em seu último dia que tudo começou a mudar. Como habitual, o representante de cada um dos povos dizia algumas palavras de agradecimento e cordialidade pela paz duradoura, e assim seguiram os discursos até que chegou o momento de Arwein Açoforte, filho de Brenin e sétimo se sua linhagem fazer seu pronunciamento. Como de costume, o anão estava triste pela partida de seus amigos, mas agradeceu imensamente a todos, implorou para que pudesse ser novamente o anfitrião no próximo ano e se emocionou durante suas próprias palavras. Ao final, pediu que entrassem alguns criados trazendo um exuberante pedestal portando uma caixa de vidro, e todos observaram maravilhados enquanto Geoffry, o bisneto de Dynion e rei dos humanos, empunhava seu magnífico presente.
Uma espada lendária, com lâminas de cristal reluzentes e que parecia mudar de cor a cada segundo. Tão afiada que nenhum mestre ferreiro seria capaz de reproduzir seu fio, tão leve que mesmo uma criança poderia empunhá-la com facilidade e mais resistente do que o próprio mithril, Emrallt era sem dúvidas a mais magnifica obra da ferraria anã, e um presente digno de um rei.
Geoffry, assim como muitos dos senhores ali reunidos, ainda fitava maravilhado para a espada orgulhosamente presa a sua cintura enquanto se despedia de Arwein, a viagem de volta a Galon seria longa mas por sorte parte de seu trajeto seria compartilhado por alguns desses senhores que também voltariam a suas casas, sem dúvidas viajar em uma caravana maior, com outros nobres seria muito menos maçante...
Foram 15 dias após a partida de Cartref que Geoffry chegou a Galonbussnes, ferido, com apenas 3 homens de sua guarda pessoal a beira da morte e sem Emrallt. A traição de Yarth, senhor guardião de Iâncrif, o atingira de surpresa. Claro que Geoffry havia notado a inveja em seus olhos, assim como nos demais senhores, mas jamais esperaria que esta inveja tomasse ações contra seu rei, e isso, não podia ser perdoado.
Embora o a força de Yarth como estrategista fosse reconhecidamente notável, ele não ousaria agir dessa forma sem apoio, seria suicídio virar-se contra Galon sozinho seus conselheiros disseram, mas Geoffry estava cego de ódio, e desejava acima de tudo recuperar sua espada. E foi impulsionado por este desejo de vingança e sangue que ele convocou seus aliados, não demorando muito para que os demais senhores juramentados se juntassem aos exércitos que em breve marchariam contra Iâncrif.
Iâncrif fora a maior das fortalezas humanas, uma cidade inteira fortificada por muralhas grossas como as muralhas centrais de Galon, construída exclusivamente como uma cidade militar era lar de muitos homens treinados e sedentos por sangue. Sua localização, no meio das Geleiras Asgardianas, fora estratégicamente concebida para que as tropas treinadas na região não sofressem com o climas áridos, podendo resistir por dias sem suprimentos ou desejos por conforto, afinal, quase qualquer lugar do mundo é mais confortável que as geleiras.
Foram 2 meses de preparação seguidos por 3 meses de marcha até que o descomunal exército liderado por Geoffry alcançasse Iâncrif, onde o cerco fora montado. A cidade que até então haviam se mostrado uma poderoso aliada, mostrou-se ainda mais forte inimiga, resistindo a todas as investidas do exército dezenas de vezes maior de Geoffry. Com seus exércitos exaustos e seus recursos findando-se. O rei não esperava que Yarth tivesse o apoio de alguns senhores do sul, foi então que Geoffry recorreu a uma solução desesperada, pedindo a um de seus magos que entrasse em contato com Arlaniel, rei dos alto elfos.
Arlaniel inicialmente recusou educadamente atender ao pedido de ajuda de Geoffry, preferindo manter-se neutro como de costume, contudo o rei dos homens fez uma proposta que Arlaniel não pôde recusar, posse permanente para seu povo sobre a ilha de Rrar, local onde o véu da magia mostrava-se mais delicado em toda Ferraria. Após receberem a ajuda dos alto-feiticeiros de Arlaniel, não tardou muito até que a cidadela caísse perante o assustador poder mágico dos alto-elfos, deixando-na em ruinas...
Após a queda de Yarth, não houve pedidos de desculpas ou conversa que impedisse Geoffry de cortar sua cabeça, ato que ele fez questão de executar com Emralld.
Após acalmada a situação, Arwein Açoforte desculpou-se por sua espada ter sido a causadora de tanta dor, e solicitou constrangido que Geoffry devolvesse a espada para que fosse novamente enterrada nos cofres dos anões e assim não causasse mais desavença entre os homens, gesto que em sua eminente loucura, Geoffry interpretou como um pavoroso insulto, rompendo assim sua amizade secular com os anões e mantendo a espada.
Na reunião extraordinária que se deu a seguir em Galon, encontravam se senhores e líderes que vieram ao apoio de Geoffry, e estes senhores dividiram-se. Alguns defendiam que era justo a Geoffry manter a espada, enquanto outros reclamavam a espada em seus nomes em troca do favor no assalto a Iâncrif, outros concordavam que ela não traria mais nenhum bem aos homens e deveria ser devolvida aos anões, enquanto parte ainda defendia que Geoffry não mantivesse sua palavra e desse tanto poder aos elfos, mas honradez era uma característica que não faltava a Geoffry.
Após alguns dias de debate tudo ficou decidido, Geoffry manteria a espada a contragosto da maioria, os elfos satisfeitos herdaram o domínio sobre Rarr, e a aliança centenária estava oficialmente rompida.
A guerra causada pelas decisões tomadas naquela reunião durou 4 anos, parte dos senhores defendiam a decisão do rei seu senhor, enquanto outra reclamavam para si o trono desejando devolver as espadas na esperança de que fosse reastaurada a paz, existia ainda um terceiro grupo que desejava tomar de volta o domínio sobre Rarr, mas este não teve real impacto dado seu objetivo principal, sendo mais um obstaculo para as duas facções principais. Foi durante este período, com intuito de alimentar os exercitos em troca de lucros, que foram fundada a Academia Arwyr.
Foi durante um embate entre os anões e alguns homens que tentavam tomar uma das entradas ao sul da cordilheira Awrywieath que um pavoroso barulho de trovão ecoou por metade do continente enquanto os céus tornavam-se vermelhos, e aqueles mais próximos puderam sentir o tremor enquanto parte da Geleira Asgardiana rompia-se em chamas abrindo uma grotesca e monumental fenda.
Os poucos homens aptos a lutar que encontravam-se em Iâncrif não foram suficientes para segurar a gigantesca onda de demônios que saíam da fenda como abelhas de uma colmeia em chamas e que logo tomaram o controle de Iâncrif e estabeleceram lá sua primeira e principal base.
Devastados pela guerra, com recursos escassos e com a antiga aliança entre os povos destruída, o reino dos homens não pode fazer muito além de assistir enquanto milhares de vidas eram tomadas pelos constantes ataques dos demônios por todo o continente. Embora tenham havido diversos embates isolados contra os demônios de Genoroth, poucos exércitos ofereciam resistência à legião vermelha, que pouco a pouco tomava mais e mais território, sempre massacrando, alimentando-se e dessacrando onde passassem.
Talvez uma nova aliança e os esforços conjuntos tivessem impedido que Genoroth tivesse causado tanta desgraça a Ferraria, mas o orgulho ferido e mágoa dos povos os impediu de juntarem forças dessa vez. Os anões trancaram-se em suas montanhas, que desta vez parece ter oferecido proteção o suficiente para não despertar o interesse da legião. Embora os elfos ao norte tenham se preparado, não ousaram intrometer-se enquanto o sul era massacrado. Os alto-elfos mantiveram-se também isolados na recém fundada Dinas'ar.
Já haviam 6 meses desde o aparecimento da fenda, e a legião já se aproximava de Galon, mas dessa vez, em um número muito maior e tendo conquistado todo o sul do continente, o que significava que não teriam problemas com recursos durante o cerco. O principal reino dos homens só tinha uma única esperança, os guerreiro livres formados pela academia, que junto com Geoffry estabeleceram uma última linha de defesa contra a legião.
Mesmo com todo o poder desses guerreiro e do rei que massacrava violentamente os inimigos munido de Emralld, era do uma questão de tempo até que caíssem. Forçados a recuar cada vez mais, não demorou até que um assalto rompesse pelos portões interiores do castelo de Galon até a sala do trono onde o rei se encontrava, apavorado, Geoffry observava o próprio Genoroth a sua frente, imponente e malicioso.
O que aconteceu a seguir nem se quer pode se chamado de batalha, já que em poucos segundos o rei estava no chão, mortalmente ferido enquanto Genoroth e sua corja demoníaca riam. Foi quando todas runas brilharam por toda a extensão da sala, e centenas de feiticeiros elfos apareceram conjurando poderosos feitiços sobre os demônios. Encurralados, não houve muita resistência que os demônios pudessem oferecer, e foi enquanto lutava contra Arlaniel que Genoroth sentiu o golpe traiçoeiro da mais poderosa lâmina construída pelos anões. E enquanto gritava de dor pela espada cravada em suas costas, Genoroth não pode resistir aos feitiços de desconjuração invocados pelos feiticeiros ébrios pela magia da ilha, tendo sido banido deste plano de existência permanentemente, espera-se.
Segundo os relatos dos sobreviventes, logo em seguida os elfos deixaram a sala do trono após dizerem ao rei agonizante que o trato fora cumprido, e que a dívida estava paga, e esta foi a última vez que eles interferiram diretamente. Geoffry morreu em seguida ainda ali, e em suas últimas palavras pediu que Rarr nunca fosse tomada dos alto-elfos, e que a aliança entre os homens deveria ser reforjada.
Sem a liderança de Genoroth e os céus vermelhos, não demorou muito para que os demônios que não ainda não tinham fugido fossem derrotados. Mas a marca deixada pela marcha da legião vermelha pairaria muito tempo sobre Ferraria, e principalmente sobre Iâncrif que mantém máculas permanentes e é sabiamente assombrada por toda a sorte de criaturas das trevas, a maior parte de seus descentes migraram para o acampamento Swydd.
Os estudiosos dividem-se sobre a origem da Espada de Cristal, parte da comunidade acredita que ela foi criada por Genoroth para destruir a aliança que ameaçava seu retorno, enquanto a outra parte acredita que ele tenha apenas aproveitado a oportunidade e atacado no momento certo. Seja como for em seu último momento de lucidez, o mundo foi salvo seja lá qual for o preço que Geoffry tenha pago aos elfos.
O rei fora sepultado na cripta real e Emralld junto com ele. Alfrey, seu sucessor, fora capaz de unificar os homens sob a coroa de Galonbusnes novamente, contudo os orgulhosos anões não foram capaz de perdoar os atos de seu pai, e embora não sejam inimigos nos dias de hoje, dificilmente poderão homens, elfos e anões serem considerados amigos novamente...